quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Poesia do Maestro

Eram três e meia da manhã, e ele carregou no habitual botão da recepção.
O elevador desce. Eu transpiro, sei o que me aguarda. Aquela camisa batida de cerveja e impregnada de tabaco, charme manchado pintado de musk, resplandece na escuridão do lobby. Acabou de acordar. Pede uma imperial, diz que tem fome, e começa o seu discurso com uma promessa de homícidio a um sul americano.
É açoreano e vive em Boston há mais de 35 anos. As suas paixões? Kátia Aveiro, Cristiano Ronaldo e a fábrica de cablagem onde trabalha.
Não gosta dos americanos - e acrescenta que quando lhe foi dada a cidadania americana, chorou e disse ao notário que fazia o "I swear by God defending the United States of America of all nations besides Portugal".
Poupou 7000 dólares para vir ver o maior do mundo a Madrid. Chorou no treino, comeu uma espanhola a quem liga (no interromper da nossa conversa) e a quem decide largar uns "queres é malhar, minha puta".
Diz-me que amigos, nem ele, e preferiu papar uma Romena quando a espanhola foi trabalhar. Trata o Cristiano Ronaldo por Cris, diz-me que já deixou mensagem à Kátia referindo a sua localização habitual: Malhá-la é, também, uma opção.
Diz-me que, depois de a malhar, vai ser amigo pessoal do Cris. Dá-me um porta-chaves do Real Madrid.
Chora outra vez e assoa-se ao cachecol quando me conta que furou o cordão de força policial e investiu contra o autocarro para chamar a atenção da sua "star". A sua star mandou-lhe um beijinho fraterno de dentro do autocarro, mandou-o afastar, e terminou pisado pelo cavalo da polícia.
Pergunto-lhe o número do quarto, abro o processo, e sinto-lhe o nome luso-americano: John Rebelo.

Ele vive, e é Açoreano.